Ossos do ofício de uma bailarina
Tal como em todas as profissões, ser bailarina também tem ossos do ofício!
Começou a época, as bandas começam a ter espetáculos e a que eu pertenço não é exceção, temos imensos espetáculos nas festas que se seguem, vêm agora os Santos Populares, as festas das zonas e lá andamos nós a viajar por Portugal e, por vezes, arredores...
Chegou o primeiro espetáculo, fomos atuar a Cinfães e nunca pensei que a população que lá vive tivesse tanto pedal... Vocês já vão entender...
Em primeiro lugar, consegui arranjar algum tempo para explorar a zona e é LINDO, a maioria do pessoal esteve a comer cerejas diretamente das árvores num grande e lindíssimo pomar que lá havia. Os músicos, entretanto, fizeram a análise do som e fomos jantar.
O espetáculo começou às 22h, começamos com uma apresentação em instrumental em que apenas os instrumentistas estão em palco e após o término dessa música entramos, eu e a minha colega bailarina mais o vocalista masculino, para a nossa primeira coreografia, o vocalista inicia em brincadeira com a frase "Olá, boa noite Cinfães, hoje é até às 8h da manhã" e siga para mais um espetáculo... Enquanto decorria o espetáculo os técnicos enviavam-nos as informações para o palco de como é que tudo estava a correr lá em baixo (no público, no som, a duração do espetáculo...), entretanto eram 23h30 aproximadamente, percebemos que o espetáculo ia decorrer até à 00h e íamos fazer um intervalozinho porque a meteorologia estava a prometer piorar e tinham começado a cair umas pingas, vamos lá encurtar o reportório... Colocaram fogo de artificio e voltamos ao espetáculo em grande. O tempo melhorou e bateu a 00h, o público ainda estava imenso, então recebemos a informação que o espetáculo ia decorrer até à 1h, pronto, lá aumentaram o reportório novamente, selecionaram aos poucos as músicas, mediante o estilo do público e o espetáculo sempre em continuidade em função dos pequenos ajustes.
Já era quase 1h da manhã, já nos estávamos a preparar para fechar o espetáculo, todos cansados, 3 horas de trabalho em cima do palco e recebemos a informação "Pessoal, como veem ainda temos muito público, vamos finalizar à 1h30"... Continuamos, 1h30 e ainda tínhamos a área do público vasta, com as pessoas a dançarem "Grupo, vamos atuar até às 2h e fecha", lá continuamos, completamente exaustos, o vocalista masculino ficou sem voz de tamanho esforço, a vocalista feminina continuou até ao final e nas últimas 3 músicas o meu gémeo (músculo) da perna direita rebenta pelas costuras, esticou de tal maneira que me deu uma cãibra terrível, mas tive que continuar assim, saí meio que a mancar e pedi ajuda à minha colega que me esticou o músculo para podermos entrar novamente...
Fiquei esgotada nesse espetáculo, 4 horas para abrir a época é demasiado tempo, mas o povo de Cinfães é excelente, recebeu-nos muito bem e contribuiu para um fantástico espetáculo, só temos a agradecer! O resto são só ossos do ofício.
O que tenho no gémeo são apenas contraturas, nada que umas massagens não resolvam e que maravilha, excluindo as dores, quem não gosta de massagens?
Espero que tenham gostado!
Beijinhos
A Manchadita